O Espirito do Tempo:
Música, Literatura e Bioética
A influência da cultura alemã no início da
Bioética
Foyer
Multipalco Eva Sopher do Theatro São Pedro
19 de
junho de 2018 19h30min
Considerações
sobre o Espírito do Tempo e a Bioética
José Roberto Goldim – biólogo
LiederKonzert
Angela Diel - mezzo-soprano
Ney Fialkow - piano
Programa
Johann Gottfried Herder (1744-1803)
O
Espírito do Tempo - Zeitgeist
Nos
ocorreu
resgatar o termo Zeitgeist, muito em função dos tempos que
estamos vivendo, da necessidade de refletir sobre a importância
do tempo no entendimento das características e contribuições
culturais, científicas e sociais.
Zeitgeist foi
um conceito proposto por Johann Gottfried Herder, que viveu
entre os anos de 1744 e 1803. Herder, assim como Goethe e
Schiller, se associou ao movimento Sturm und Drang, que
pode ser traduzido por Tempestade e Ímpeto, que foi a base do
Romantismo Alemão. Esta denominação foi retirada do título de
uma peça de teatro de Friedrich Maximilian Klinger (1752-1831).
Era um movimento de retorno a poesia da Bíblia, de Homero e do
folclore nacional. Na música, Mozart e Haydn se associaram a
esta proposta. Eles se denominavam de Stürmer, que poderia
ser traduzido por Avançados.
Herder,
em
1793, definiu Zeitgeist
como sendo as "opiniões, costumes e hábitos predominantes de um
tempo ", poderia se utilizar o termo Mentalidade.
Georg
Wilhelm
Friedrich Hegel (1770-1831), que habitualmente é citado como
criador deste termo, na realidade nunca o usou. Ele utilizava Geist der Zeiten, ou o
Espírito dos Tempos . Para Hegel, espírito era a expressão da
cultura de um povo. Goethe já havia utilizado esta expressão,
inúmeras vezes, em sua obra, especialmente no início de Fausto.
A
palavra Espírito é polissêmica, ou seja, admite múltiplos
significados, podendo levar a compreensões ambíguas. Espírito
pode ser utilizado para as substâncias incorpóreas, tais como os
anjos e as almas dos mortais; pode ser o sopro que vivifíca (Pneuma); pode ser uma
disposição ou uma atitude, como em espírito esportivo; e pode
ser sinônimo de Mente, como fonte dos pensamento, como
caracterizou Abbagnano, em seu Dicionário de Filosofia. Neste
último sentido, que é o utilizado pelos diferentes autores ao se
referirem ao Espírito do Tempo, é o sistema de crenças, de
reconhecimentos, de ignorâncias, de expectativas e de
significados, como tão bem caracterizou John Dewey.
Afinal,
o
que é o Espírito do Tempo, nada mais é do que o conjunto das
características de uma época histórica. Estas características
podem gerar, em alguns momentos peculiares, uma sinergia, uma
amplificação, resultando em uma nova perspectiva de pensamento.
É desta conjunção de fatores culturais que surgem algumas das
ideias mais inovadoras da história, como a Bioética, por
exemplo.
É
neste sentido que estamos propondo esta série de oficinas sobre
Música, Literatura e Bioética. Não poderíamos começar de outra
maneira, pelas origens do Espirito do Tempo e da Bioética: a
cultura alemã do século 19.
O
reconhecimento da importância da vida e do viver para a Ética
foi fruto deste sistema de crenças e saberes. Dois autores,
Albert Schweitzer e Fritz Jahr, sintetizaram estas questões
produzindo duas propostas para um mesmo pensamento: a Reverência
à Vida e a Bioética.
Muitas
influências
culturais foram comuns a ambos autores. A poesia e a música
deram leveza e sensibilidade para o pensamento que integra o ser
humano à natureza, dando sentido à sua integração com a
humanidade como um todo.
Nesta
noite, além de uma breve apresentação das ideias de Albert
Schweitzer e de Fritz Jahr, teremos uma seleção de canções
alemãs – denominadas Lieder – que em muito moldaram o pensamento
destes dois autores. O Romantismo alemão nos remete a uma
expressão expandida da realidade, às poucas coisas que são
realmente inevitáveis nas nossas vidas: a natureza, a morte, a
felicidade e o amor.
Para
nos apresentar estas obras maravilhosas, contamos com a
participação de Ângela Diel e de Ney Fialkow.
Robert
Schumann (1810-1856)
Der
Nussbaum (A
Nogueira) op. 25 n. 3 – Julius
Mosen (1803-1867)
É toda
verde a nogueira que está na frente da casa,
perfumada
arejada
Ela
espalha seus galhos frondosos,
De
flores delicadas é toda recoberta;
delicados
ventos
Vem
abraçá-las com tenro afeto.
Sussurrando
as flores, unidas duas a duas,
graciosamente
inclinando,
ao
beijo do vento, suas pequenas cabeças.
Sussurrando
de uma garota
Que
pensava
De
noite
De dia,
sem saber em que.
Sussurram
- quem pode entender
Uma tão
suave
Canção?
Eles
sussurram sobre um noivo e do próximo ano,
A
garota escuta, o ruído da árvore,
Com
desejo,
E
esperança,
Sorrindo,
ela mergulha no sono, e sonha.
Die
Lotusblume (A
flor de Lótus) op. 25 n. 7 - Heinrich
Heine
(1797-1856)
A flor
de lótus tem receio
Do
esplendor do sol,
E,
cabisbaixa e sonhadora,
Espera
pela noite.
A lua é
o seu amante,
Desperta-a
com a sua luz,
E
revela-lhe amigavelmente
A sua
inocente face de flor.
Ela
floresce e arde e irradia,
E olha
em silêncio para o alto,
Perfuma
e chora e estremece
Com o
amor e os desgostos de amor.
Heidenröslein (Rosa da
campina) - Johann
Wolfgang von Goethe
(1749-1832)
Viu um
jovem, uma rosinha sobre a campina,
era
tão fresca e bela como a manhã,
para
vê-la de perto correu, e a contemplou com alegria.
Rosinha,
rosinha, rosinha vermelha, rosinha da campina.
O
jovem falou: "Eu te colherei, rosinha da campina."
A
rosinha falou: "A ti irei espetar, para que penses sempre em
mim,
e
disso eu não sofrerei."
Rosinha,
rosinha, rosinha vermelha, rosinha da campina.
E o
jovem traquinas colheu a rosinha da campina.
A
rosinha se defendeu e o espetou, não o ajudaram nem dor nem ai,
teve
mesmo de suportá-la.
Rosinha, rosinha, rosinha vermelha, rosinha da campina.
Franz SCHUBERT (1797-1828)
Ganymed (Ganímedes) - Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
Como
no brilho da manhã me aqueces por todos lados, primavera amada!
Numa
imensa onda de amor aconchegas ao meu coração
teu calor eterno
sentimento sagrado, beleza infinita!
Que
desejo segurar-te com esse braço!
Ah,
em teu peito me recosto e anseio,
e
tuas flores e teu capim se achegam a meu coração.
Tu
refrescas a sede que queima meu peito, brisa delicada da manhã!
O
rouxinol chama por mim gentilmente lá do vale nublado.
Já
vou, já vou! Para onde? Ah, para onde?
Para
o alto! Devo chegar ao alto.
As
nuvens pairam abaixo, abaixo, as nuvens
se
inclinam ao anseio do amor.
A
mim! A mim! Em seu regaço para o alto!
Abrangendo
e prendendo!
Subindo
para junto do teu peito,
Pai
amoroso!
Albert
Schweitzer
(1875-1965)
O
Precursor da Bioética
Albert
Schweitzer nasceu em Kaysersberg, na Álsácia-Lorena, então
território alemão, em 14 de janeiro de 1875. Passou a sua
infância em Gusnbach, onde seu pai era Pastor luterano. Na mesma
igreja, em horários alternados, haviam cultos luteranos e missas
católicas. Ele faleceu em Lambaréné, no Gabão, em 4 de setembro
de 1965.
Era
membro de uma influente família de políticos da região.
Uma
curiosidade familiar é que uma prima-irmã de Albert, Anne-Marie
Schweitzer é a mãe de Jean-Paul Sartre. Schweitzer, quando
questionado das ideias de Sartre, afirmou: “todas as opiniões
são respeitáveis quando são sinceras, e por conta disso, Deus
seguramente o perdoará”.
Schweitzer
teve formação em Teologia, Filosofia, Música e Medicina. Em
todas estas áreas teve um importante destaque. Ele recebeu as
seguintes honrarias:
• Prêmio Goethe do governo de
Frankfurt – 1928, foi o segundo intelectual a receber esta
distinção para a área da literatura.
• Prêmio Nobel da Paz – 1952 –
pela sua criação e atuação no hospital em Lambaréné atuação na
África
• Medalha Paracelso da
Associação Médica Alemã – 1952– primeiro a receber esta
honraria, com outros dois médicos
Schweitzer
se formou em Teologia, especializando-se na obra de São Paulo e
na pesquisa histórica sobre Jesus, e Filosofia, com tese sobre a
obra religiosa de Kant, na Universidade de Estrasburgo, com 25
anos. Aos 30 anos já era professor desta universidade, atuava
como Pastor e era reconhecido como organista, intérprete e
biógrafo de Johann Sebastian Bach. Os seus livros e discos estão
disponíveis até os dias de hoje. Também era uma referência na
construção de órgãos e do Movimento de Reforma dos Órgãos.
Fez
Medicina, como forma de auxiliar pessoas de uma forma mais
concreta. O seu trabalho de conclusão de curso, em 1912, foi “um
estudo psiquiátrico de Jesus”. Após se formar, casou em 1912,
com Helene Breslau, que era Assistente Social e Enfermeira. Teve
uma única filha, Rhena Schweitzer Miller. Em 1913 foram para a
África para trabalhar em uma missão em Lambaréné no Gabão. Em
1917 foram considerados prisioneiros de guerra, e mandados a um
campo de concentração na França, onde permaneceram até o final
da guerra. Neste período ele escreveu:
“Começaremos novamente. Devemos dirigir nosso
olhar para a humanidade”.
Após o
término da guerra faz uma série de conferências e concertos
visando angariar recursos e volta para Lambaréné para
reconstruir um hospital, agora com um grupo de médicos e
enfermeiros. Passa alguns períodos na África e outros na Europa.
De 1939 até o final da segunda guerra, permanece na África.
Algumas
citações revelam a sensibilidade que a questão da vida e do
viver tiveram na obra de Albert Schweitzer.
O
surgimento da ideia de Reverência à Vida ocorreu, em setembro de
1915, em uma viagem na África:
“Já era
tarde, no terceiro dia, no momento em que, ao pôr do sol, nós
estávamos fazendo o nosso caminho através de uma manada de
hipopótamos, brilhou em minha mente, de forma imprevista e
impensada a frase, "Reverência pela Vida". (...) Agora eu sabia
que a aceitação ética do mundo e da vida, juntamente com os
ideais da civilização contidas neste conceito, tem uma base
neste pensamento” (3).
Neste
mesmo relato ele cita:
“Assim
como a hélice que ao movimentar a água impulsiona o navio, assim
reverência à vida conduz o ser humano” (3).
Com
relação ao conceito de Reverência à Vida, seguem alguns
esclarecimentos do próprio autor:
“Reverência
para a infinidade de vida significa remover a alienação e
restaurar a empatia, a compaixão, a simpatia” (4).
“Reverência
envolve toda a vida no maior mandamento, na sua forma mais
elementar. Tomamos esta proibição ("Não matarás") de forma tão
leve, sem pensar nisso ao arrancar uma flor” (4).
“(A
Reverência à Vida) é que me dá o princípio fundamental da moral,
ou seja, que o bem consiste em manter, promover e melhorar a
vida, e que destruir, ferir e limitar a vida é o mal” (5).
Sobre a
Vida, Albert Schweitzer, esclareceu novamente:
“A vida
é sentir, experienciar, sofrer. Se você estudar a vida
profundamente, com os olhos perspicazes que procuram sua
profundidade, no vasto caos animado desta criação, vai lhe
causar tonturas de repente. Em tudo, você reconhecerá a si
mesmo” (4).
“A vida
exige um olhar que permita reconhecer, por meio da solidariedade
para com todas as formas de vida, em qualquer grau, como tendo
alguma semelhança com a vida que está em nós” (3).
“Um
homem é ético apenas quando a vida, como tal, das plantas e
animais, é sagrada para ele, assim como a de seus semelhantes
... “(5)
“Uma
ética universal, do sentimento de responsabilidade por uma
esfera cada vez maior de tudo que vive, pode ser baseada apenas
na reflexão” (5).
Franz
Schubert (1797-1828)
Nähe
des Geliebten (A proximidade do amado) - Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
Penso
em ti, quando os raios do sol refulgem do mar sobre mim;
penso
em ti, quando a lua em cascatas cintila.
Vejo a
ti, quando ao longe no caminho a poeira se levanta;
na
noite profunda, quando o caminhante hesita sobre a ponte
estreita.
Ouço a
ti, quando com rumor surdo a onda se eleva.
vou
seguido ao bosque silencioso, quando tudo se cala.
Estou
contigo, mesmo que estejas tão longe.
Estás
bem próxima de mim!
O sol
se põe, logo as estrelas brilharão. Oh, estivesses tu aqui!
Franz Schubert
(1797-1828)
Der
Musensohn (O
filho das Musas) - Johann
Wolfgang von Goethe
(1749-1832)
Vaguando
através de campos e bosques, assobiando minha canção,
assim
sigo de aldeia em aldeia!
E tudo
se mexe ao meu ritmo e tudo se anima conforme a melodia
seguindo
junto comigo.
Mal
posso esperar, pela primeira flor no jardim,
Pelo
primeiro broto na árvore.
Elas
saúdam meus cânticos, e quando o inverno regressa,
ainda
canto esse sonho.
Eu o
canto lá longe, sobre a amplidão do gelo, onde o inverno
floresce em beleza!
Também
esta floração desaparece, e nova alegria se encontra sobre as
alturas cultivadas.
Então,
quando eu junto à tília, encontro o jovem grupo, tão logo os
provoco.
O
rapaz apático se ufana, a moça, tesa, rodopia ao som da minha
melodia.
Vocês
dão asas aos pés levando através de vales e montes para longe de
casa o amado.
Oh,
amadas, musas graciosas, quando, enfim, novamente junto a seu seio
descansarei?
Franz Schubert
(1797-1828)
Gretchen am Spinnrade (Gretchen na roda de fiar)- Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
Minha
paz se foi, meu coração pesa;
Eu não a
encontro nunca e nunca mais.
Onde eu
não encontro o meu amado, tudo é sem vida,
Estou
desiludida com o mundo
Minha
pobre cabeça está fora de si.
Minha
consciência está amortecida.
Minha
paz se foi, meu coração pesa;
Eu não a
encontro nunca e nunca mais.
Meu
olhar está voltado só para ele, meus passos só caminham com ele
Seu
nobre andar, seu corpo altivo,
Sua boca
sorridente, a força do seu olhar,
O
encanto de suas palavras Seu carinho, e ah! Seu beijo.
Meu ser
anseia por ele.
Ah... se
eu pudesse abraçá-lo, acariciá-lo, e beijá-lo,
Como eu desejaria, Como seus beijos me
levariam ao êxtase!
Franz
Schubert
(1797-1828)
Moment
Musical n. 3 (piano solo)
Fritz Jahr (1895-1953)
O fundador da
Bioética
Fritz
Jahr
nasceu em Halle an der Salle, na Alemanha, em 18 de janeiro de
1895. Teve formação em Teologia, Filosofia, Música, História e
Economia. Foi professor de educação infantil, no ensino
fundamental e médio, em várias escolas públicas e privadas. No
final de sua vida foi professor de violoncelo na assim como
professor particular de Música. Foi
Pastor
Luterano por muitos anos em duas paróquias diferentes, próximas
a Halle. Foi casado com Elise Neuholz, não teve filhos. Morreu
na mesma cidade em 01 de outurbro de 1953 (6).
As
suas
propostas para a criação da Bioética foram propostas em dois
artigos publicados em 1926 e 1927. Ele reconheceu que o que
estava propondo não era efetivamente, nada de novo:
Objetivamente
a
Bioética não é, de modo algum, uma descoberta do presente. Como
um exemplo interessante do passado, podemos lembrar a figura de
São Francisco de Assis (1182-1226) com seu grande amor também
pelos animais, que em sua acolhedora simpatia para com todos os
seres vivos foi um precursor da exaltação de Rousseau de toda a
natureza séculos depois (7).
Ele
próprio teve uma educação ampla e abrangente que permitiu
reconhecer a necessidade de uma visão mais integrada dos seres
humanos com os demais seres vivos, baseada na noção de
compaixão. Em vários trechos destes dois artigos, isto fica
evidente:
A
distinção clara entre animal e ser humano, válida desde o início
de nossa cultura europeia até o final do século XVIII, não pode,
hoje, ser mantida. (7).
Da
Biopsíquica
[Bio-Psychik] é apenas um passo para a Bio‐Ética
[Bio-Ethik], ou seja, de assumir responsabilidades éticas, não
só para com os seres humanos, mas para com todos os seres vivos
(8).
Nós
reconhecemos
isso, quando nós nos familiarizamos com as sérias considerações
da Ética das Plantas, feitas por um sóbrio filósofo, como Ed.
Von Hartmann, que morreu há apenas vinte anos. Em um artigo
sobre flores de luxo, ele escreve sobre uma flor colhida: "Ela é
um organismo mortalmente ferido, mas apenas as suas cores ainda
não foram destruídas, a cabeça ainda está ali, mas separada do
torso. - Sempre que vejo uma rosa em um copo de água ou atada em
um buquê, eu não deixo de lutar contra o pensamento desagradável
que um ser humano tenha matado a vida da flor com o único
propósito de a desfrutar com seus olhos, cruel o suficiente para
não sentir a morte não natural sob a aparência de vida. - E se
eu olhar uma obra-prima de um arranjo de flores, uma grande
cesta com muitas das mais preciosas flores, me sinto pressionado
a admirar uma mantilha, trançada na roca, com muitas borboletas
e besouros ainda se
contorcendo" (8).
A
proteção dos animais ganha cada vez mais espaço e mais adeptos e
qualquer pessoa digna hoje reage ao ver um ignorante decepar
distraidamente as flores do caminho com a bengala de passeio ou
quando crianças as arrancam e as jogam fora sem pensar alguns
passos adiante (7).
A
sua atuação como professor se manifesta quando propõe a criação
de um Imperativo Bioética, ou seja, um mandamento que sirva de
orientação para as nossas ações:
Nossa
educação
já fez grandes progressos nesse aspecto, mas temos de chegar a
ponto de ter como prumo para nossas ações ao imperativo bioético
que diz (7):
Respeita
todo
ser vivo essencialmente como um fim em si mesmo e trata-o, se
possível, como tal! (7,8).
Ao
reconhecer a necessidade da universalização e a integração das
ações humanas, Fritz Jahr demonstra prudência e propõe que a
responsabilidade de criar esta nova perspectiva de convivência é
de todos:
Todos,
plantas
e animais, bem como os seres humanos, são iguais em direitos,
mas não são idênticos, cada um de acordo com as condições
necessários para alcançar os seus objetivos (8).
Mesmo
ao
ensinar História Natural, existe a possibilidade de influenciar
na formação do caráter. Como resultado, estes indivíduos
recebem, de certa forma, também uma formação de assuntos sobre
caráter. É de grande importância lembrar a demanda contemporânea
no que diz respeito a proteção da natureza. Esta necessidade não
deve ser defendida apenas do ponto de vista estético, indicando
que é feio torturar animais, destruir plantas sem sentido, e
desfigurar a natureza livre de Deus jogando fora papel, cascas
de ovos, ou vidro quebrado, - mas elevando-a como uma séria
obrigação na Ética (8).
Finalizando,
a
Bioética nasce na Alemanha no início do século 20 como um
produto do pensamento, da cultura e da reflexão que se seguiu a
Primeira Guerra Mundial. O lastro dado pelas reflexões
teológicas, filosóficas e científicas, associados à
sensibilidade que a música e a literatura têm a capacidade de
transmitir, é que permitiu esta construção de uma nova área de
integração de saberes que é a Bioética. Resgatando o que disse
Albert Schweitzer,
“Devemos
dirigir nosso olhar para a humanidade”.
Johannes
Brahms
(1833-1897)
Vier ernste Gesänge
(Quatro canções sérias) – op. 121 – Textos Bíblicos
I.
Denn es
gehet dem Menschen (O destino
do homem) Salomão (1050aC-931aC)
Eclesiástes 3:19-22
19 No
fim
das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com
os animais. Tanto as pessoas como os animais morrem. O ser
humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois
têm de respirar para viver. Como se vê, tudo é ilusão,
20 pois
tanto
um como o outro irão para o mesmo lugar, isto é, o pó da
terra. Tanto um como o outro vieram de lá e voltarão para
lá.
21 Como
é
que alguém pode ter a certeza de que o sopro de vida
do ser humano vai para cima e que o sopro de vida do
animal desce para a terra?
II.
O Tod, o
Tod, wie bitter bist du (Ó morte, ó morte, quão amarga
você é) Jesus Ben Sirach (190aC- ) Eclesiástico 41:1-4
1 Ó morte,
como tua lembrança é amarga para o homem que vive em paz
no meio de seus bens,
2 para o homem
tranqüilo e afortunado em tudo, e que ainda se encontra
em condição de saborear o alimento!
3 Ó morte, tua
sentença é suave para o indigente, cujas forças se
esgotam,
4 para quem
está no declínio da idade, carregado de cuidados, para
quem não tem mais confiança e perde a paciência.
III.
Wenn ich
mit Menschen (Ainda que eu falasse as línguas
dos homens)
– Paulo de Tarso
(5-67) Carta aos Coríntios 13:1-3, 12-13
1 Ainda que eu falasse
as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver
caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo
que retine.
2 Mesmo que eu tivesse o
dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda
a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de
transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou
nada.
3 Ainda que distribuísse
todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver
caridade, de nada valeria!
12 Hoje vemos como por
um espelho, confusamente; mas então veremos face a face.
Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente,
como eu sou conhecido.
13 Por ora subsistem a
fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior
delas é a caridade.
Richard Strauss (1864 -1949)
Morgen! (Amanhã) - John Henry Mackay
(1864-1933)
E
amanhã o sol brilhará novamente,
E
o caminho que eu percorrerei
Nos
reunirá, nós os bem-aventurados, outra vez,
Sobre
esta terra que respira a luz do Sol...
E
na praia, na vasta praia banhada por ondas azuis,
Nós
desceremos tranquila e lentamente;
Silenciosamente
nos olharemos nos olhos um do outro
E
o silencio da felicidade descerá sobre nós.
Richard Strauss (1864 -1949)
Zueignung (Dedicação) – Hermann von Gilm
(1812-1864)
Sim,
tu sabes, alma querida,
que
me atormenta estar longe de ti.
O
amor deixa doente o coração.
Obrigado!
Uma
vez levantei bem alto, embriagado de liberdade,
a
taça de ametista.
E
tú abençoastes a poção.
Obrigado!
E
exorcisaste o mal
Até
que eu, como jamais antes havia estado,
Abençoado,
mergulhei em seu coração.
Obrigado!
Encerramento
Quero
agradecer
a todos que colaboraram direta ou indiretamente para a
realização desta oficina, especialmente a equipe de produção e
de apoio, a Associação de Amigos do Theatro São Pedro e aos
funcionários do Theatro São Pedro
Convidamos
a
todos para a próxima edição do Espírito do Tempo: Música,
Literatura e Bioética que ocorrerá em 23 de outubro, neste mesmo
Theatro São Pedro, refletindo sobre a Influência da cultura
da década de 1960 para a formação da Bioética norte-americana
no início dos anos 1970.
Boa noite e obrigado a todos!
NOME DATIVIDADE |
O ESPIRITO DO TEMPO:
MÚSICA, LITERATURA E BIOÉTICA A influência da cultura alemã
no início da Bioética |
FICHA TÉCNICA |
Direção: José
Roberto Goldim Márcia
Santana Fernandes Direção Artística: Angela
Diel Ney
Fialkow Apresentador:
José Roberto Goldim Cantora
lírica- Mezzo Soprano: Angela Diel Pianista:
Ney
Fialkow Márcia
Santana Fernandes: Relações Públicas: Laura
Goldim Alberto
Goldim Equipe de Apoio: Bruna Borba Neves Cássia Linhares Pacheco Christina Hallal Alves Gazal Daniel Tietbohl Gilberto Sanvitto Helena Ashton Prolla Larissa
Roso Luciane
Cristina Vieira Marianna Gazal Passos Patrícia Fraga |
Apoiadores: |
·
Núcleo
Interinstitucional de Bioética – HCPA ·
Escola
de Medicina da PUCRS ·
Programa
de Pós-Graduação em Direito da PUCRS ·
Fundação
Médica do Rio Grande do Sul ·
Casa
da Música ·
Instituto
de Estudos Culturalistas – IEC ·
Escola
Superior de Magistratura – ESM/RGS |