Como manejar a constipação intestinal em adultos na Atenção Primária à Saúde?
Orientar uma dieta rica em fibras associada à ingestão hídrica adequada é a recomendação de manejo inicial para os pacientes com constipação. Deve-se orientar o aumento do uso de alimentos com efeito laxante e a redução daqueles que têm efeito constipante.
Alimentos sugeridos para manejo da constipação:
- Preferir alimentos laxantes: abacaxi, ameixa, maçã com casca, mamão, manga, melancia, cajá, umbu, acerola, cacau, aveia, farelo de trigo, milho, laranja com bagaço, feijão, lentilha, soja, grão-de-bico, semente de linhaça, abóbora, abobrinha, verduras cruas, arroz integral, pão integral, vagem, pepino, figo, folhas (alface, agrião, rúcula).
- Diminuir a quantidade de alimentos constipantes: farinhas refinadas presentes no macarrão, pão branco, arroz branco, biscoitos refinados, bolachas, bem como batata, mandioca, tapioca, batata doce, mandioquinha, cuscuz, além de alimentos industrializados em geral (ultraprocessados).
Deve-se orientar quanto ao hábito intestinal durante a consulta, explicar sobre o reflexo gastrocólico, que causa vontade de evacuar mais frequente após as refeições, sobretudo após café-da-manhã e almoço, e que por isso é importante perceber esse reflexo e, sempre que possível, não inibir a vontade evacuatória.
A ingestão de fibras deve ser idealmente entre 19 e 38 g por dia, variando conforme sexo e faixa etária. Os alimentos ricos em fibras devem ser incluídos na dieta (ver tabelas 1 e 2).
Tabela 1: Quantidade indicada de ingesta de fibras conforme faixa-etária.
Estágio da vida | Ingesta adequada, em gramas, por dia | |
Homens | Mulheres | |
1-3 anos | 19 | 19 |
4-8 anos | 25 | 25 |
9-13 anos | 31 | 26 |
14-18 anos | 38 | 26 |
19-50 anos | 38 | 25 |
51 anos | 30 | 21 |
Gestantes | – | 28 |
Lactantes | – | 29 |
Fonte: Adaptado de Padovani (2006).
Tabela 2: Quantidade de fibras contida em alimentos de consumo comum.
Alimento | Quantidade, em gramas, de fibra a cada 100 g de alimento | Alimento | Quantidade, em gramas, de fibra a cada 100 g de alimento |
Pipoca estourada | 14,3 | Arroz integral cozido | 2,7 |
Aveia em flocos | 9,1 | Abóbora cabotiá cozida | 2,5 |
Feijão cozido | 8,4 | Espinafre cozido | 2,5 |
Lentilha cozida | 7,9 | Couve-flor cozida | 2,1 |
Amendoim | 7,8 | Banana | 2 |
Pão integral | 6,9 | Repolho cru | 2 |
Abacate | 6,3 | Beterraba cozida | 1,9 |
Couve verde refogada | 5,7 | Mamão | 1,8 |
Ervilha enlatada | 5,1 | Abobrinha cozida | 1,6 |
Milho | 4,6 | Pêssego com casca | 1,4 |
Ameixa seca | 4,5 | Maçã | 1,3 |
Laranja | 4 | Tomate | 1,2 |
Brócolis cozido | 3,4 | Pepino com casca | 1,1 |
Cenoura crua | 3,2 | Alface | 1 |
Pera | 3 | Suco de laranja | 0,4 |
Fonte: Adaptado da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (2011).
Além de modificações na alimentação, a suplementação de fibras pode ser feita com:
- aveia, farelo de trigo, farinha de linhaça (2 a 4 colheres de sopa dissolvidos em água, suco ou iogurte);
- agentes formadores de bolo fecal como psyllium e metilcelulose (1 a 2 colheres de sopa ao dia), havendo uma série de apresentações comerciais disponíveis.
Pacientes que não respondem às medidas acima ou que não toleram o uso de fibras podem se beneficiar do uso de laxativos osmóticos (lactulose, leite de magnésia ou polietilenoglicol [PEG]). Sugestões de uso:
- Leite de magnésia: 2 a 4 colheres de sopa, divididas em 1 a 3 vezes ao dia, em horários distantes das refeições principais;
- Lactulose: 15 a 30 mL ao dia, pela manhã ou à noite;
- PEG (macrogol) – Muvinlax®ou PegLax®: 1 a 2 sachês ao dia.
Deve-se também atentar para o uso de medicações ou condições clínicas associadas à constipação secundária (ver quadro 1). Se identificadas, deve-se manejar a doença de base e/ou buscar alternativa de tratamento às medicações constipantes, sempre que for possível.
Quadro 1: Causas secundárias de constipação
Medicamentos | Anticolinérgicos, antidepressivos, anti-histamínicos, anticonvulsivantes, bloqueadores do canal de cálcio, clonidina, diuréticos, ferro, anti-inflamatórios, opioides. |
Condições clínicas | Hipotireoidismo, hipercalcemia, hiperparatireoidismo,diabetes, doença de Parkinson, esclerose múltipla, depressão, ansiedade, distúrbios anorretais, câncer de cólon. |
Fonte: Duncan (2013).
Referências
- Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ, organizadores. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013.
- Wald A. Management of chronic constipation in adults [Internet]. Waltham (MA): UpToDate Inc.; 2019 [citado em 2019 ago 15]. Disponível mediante login e senha em: <https://www.uptodate.com/contents/management-of-chronic-constipation-in-adults>.
- Dynamed. Record No. T116186, Constipation in Adults [Internet]. Ipswich (MA): EBSCO Information Services; 2018 [atualizado em 2018 dez 03, citado em 2019 ago 15]. Disponível mediante login e senha em: <https://www.dynamed.com/condition/constipation-in-adults#GUID-2166A07C-1769-41E8-A120-8B0585F983C2>.
- TelessaúdeRS-UFRGS. Telecondutas: Fissura anal [Internet]. Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; 2017 [acesso em 15 agosto 2019]. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/telessauders/documentos/telecondutas/tc_fissura_anal.pdf>
- TelessaúdeRS-UFRGS. Telecondutas: Hemorroidas. Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; 2018 [acesso em 15 agosto 2019]. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/telessauders/documentos/telecondutas/tc_hemorroidas.pdf>
- Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação, Universidade Estadual de Campinas. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – TACO. 4ª ed. Campinas: NEPAUNICAMP; 2011.
- Padovani RM, Amaya-Farfán J, Colugnati FAB, Domene SMA. Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr. [Internet]. 2006 [citado em 2019 Ago 15];19(6):741-760. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141552732006000600010&lng=en>.
- Institute of Medicine. Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acids. Washington (DC): National Academy Press; 2005.
- Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
Revisão por:
Compartilhe no:
Com dúvida clínica?
conheça nossa teleconsultoria
Essa resposta foi gerada a partir de uma da mais de 100 mil teleconsultorias realizadas por nós atráves do 0800 644 6543, canal gratuito para resolução de dúvidas de profissionais da saúde de todo o Brasil.
