Letícia Maria Pereira
Mestranda em Política Social e Serviço Social da UFRGS
Assistente Social na Fundação de Assistência Social de Caxias do Sul
Em 2020, a pandemia de covid-19 chocou o mundo. No Brasil, as respostas governamentais tornaram esse cenário catastrófico. Até janeiro de 2022 já haviam morrido 621 mil brasileiros e mais de 23 milhões foram infectados. Segundo dados do Movimento Alerta (apud DOMINGUEZ, 2021, p. 13), no primeiro ano de pandemia ocorreram 305 mil mortes acima do esperado, e destas, 120 mil poderiam ter sido evitadas.
Somado ao cenário de mortes, que evidenciou a importância do Sistema Único de Saúde e seus mecanismos para o enfrentamento da pandemia, isso se somava ao cenário de desamparo vivido desde antes por omissão no Estado na execução de outras políticas sociais. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios de julho de 2020 mostraram que mais de 14 milhões trabalhadores com mais de 14 anos estavam desocupados. A pesquisa também apontou que 6,5% dos domicílios (cerca de 4,4 milhões) sobreviviam apenas com os rendimentos recebidos do auxílio emergencial. Além disso, entre os domicílios de renda baixa, após o Auxílio Emergencial, os rendimentos atingiram 124% do que seriam com as rendas habituais (IPEA, 2020), evidenciando que a situação de pauperismo já estava instalada antes de 2020. Junto com o desemprego, os dados apresentam uma marca de 19 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passando fome. (PENSSAN apud GUIMARÃES, 2021, p. 6). Além da insegurança alimentar, o país enfrenta um grande déficit habitacional. Segundo dados da Fundação Joaquim Pinheiro, o déficit habitacional1 no Brasil em 2019 era de 5,8 milhões de habitações.
O Auxílio emergencial chegou a 60% dos brasileiros, tornando-se “[…] um marco para as transferências sociais não contributivas no país, pois alcançou cerca de 67 milhões de beneficiários em mais de 40 milhões de famílias” (PAIVA et al, 2021, p. 8). Seu custo de 45 milhões por mês representou 1,3 vezes o orçamento do Programa Bolsa Família previsto para o ano de 2021. Apesar disso, o programa focalizado em trabalhadores desempregados, trabalhadores informais e microempreendedores individuais deu-se por fora da estrutura do Sistema Único de Assistência Social, com legislação e sistema operacional paralelos e forte controle através da Dataprev. Ainda assim, é necessário reconhecer a importância que o benefício de renda teve para a sobrevivência dos trabalhadores brasileiros, especialmente com os valores iniciais aprovados pelo legislativo após pressão dos movimentos sociais organizados.
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